Mas a realidade, claro está, é mais complexa. Tanto a irmã Irene como a irmã Ana, ambas neste livro, são freiras, mas as suas vocações foram, e são, radicalmente diferentes. É assim com cada um de nós, seja qual for a vida que Deus nos chama a levar.
Se há coisa que compreendi ao longo desta peregrinação ao coração da vida consagrada, é que o cristianismo é uma religião de relação. Há regras, há normas, há cânones, há tudo isso... Mas se não assentam sobre uma relação pessoal com Deus, com Jesus Cristo, são como o bronze que ressoa, para usar um termo evangélico.
E se isso é verdade, então não pode haver chamamentos uniformes, regimentais. Cada chamamento, cada vocação, nasce de uma relação única e individual, entre uma mulher, neste caso, única e irrepetível e um Deus que a conhece melhor do que ela se conhece a si mesma.
E visto por este prisma, a oportunidade que me foi dada de poder conhecer a história destas mulheres não pode ser vista como um trabalho, nem como um serviço, pois é acima de tudo um enormíssimo privilégio. Porque ao contarem‐me como sur‐ giram as suas respectivas vocações, como as vivem na procura constante de intensificar essa relação de intimidade com Deus, estão a deixar‐me vislumbrar aspectos de uma história incrivelmente pessoal.
Mas é precisamente porque essa é também uma história de enorme felicidade e realização que todas elas, uma vez aceite o meu desafio, precisaram de pouco incentivo para me contar os detalhes desse seu percurso. Reconheço o entusiasmo como aquele que eu próprio sinto quando conto aos outros como conheci e me apaixonei pela Ana, com quem mais tarde casei e constituí família. Reconheço porque são histórias paralelas, ambas alimentadas por dedicação e momentos de paixão, mas sobretudo por amor.