Os Cantos
A obra-prima de Maria Filomena Mónica
Foi na Primavera de 1988, durante uma estadia em Ponta Delgada, que conheci José do Canto. É verdade que ele morrera, mas desde quando é que tal afectou o meu interesse por alguém? De certa forma, sinto-me mais perto dele do que os seus contemporâneos. Não se trata, como é óbvio, de uma identificação. Quase tudo - e não apenas a época, a origem social e o sexo - nos separa. E, no entanto, não descansei enquanto não decifrei o enigma que o rodeava.
Descendente de uma ilustre família açoriana, José do Canto era, no sentido próprio do termo, um «vitoriano». É verdade que nascera nos Açores, e não em Inglaterra, mas a sua cultura era cosmopolita. Como outros portugueses, sabia que vivia na periferia da Civilização, mas, ao contrário deles, considerava São Miguel um paraíso.