António Guterres - Os Segredos do Poder
Esta obra resulta de uma longa investigação histórica sobre a vida pública e privada de António Guterres. Trata-se de uma narrativa coerente e factualmente rigorosa desde a sua infância na aldeia de Donas até às funções actuais nas Nações Unidas, mas com especial enfoque na sua tomada de poder e posterior queda política enquanto momento marcante da história da democracia portuguesa.
O caminho para o pântano começou com divergências no primeiro governo e agravou-se com fracturas internas que culminaram com a demissão em finais de 2001. A própria noite em que António Guterres pela primeira vez escolheu a espada e não a parede ficou marcada pelas movimentações dos que pretendiam mantê-lo no cargo para se preparem como alternativas e pelas resistências dos que apoiavam a demissão para que tudo fosse clarificado.
A reconstituição dos bastidores desses processos de decisão política está detalhadamente através dos protagonistas directos. Desde logo, o próprio António Guterres. O seu relato mostra em perspectiva as divergências internas por causa de moções de censura e de confiança, as resistências políticas para efectuar cortes de despesas que se sabia fundamentais, as sucessivas traições de ex-ministros ressentidos, a insurreição do grupo parlamentar do PS contra alguns governantes e as pressões de ministros para que o primeiro-ministro se demitisse antes do fim do mandato.
O orçamento do queijo tornou-se na metáfora desta época. As negociações secretas de dois ministros com um deputado da oposição para viabilizar um Orçamento do Estado antecipadamente chumbado, as profundas divergências entre esses ministros adeptos do orçamento limiano e os que queriam eleições antecipadas, as próprias dinâmicas do episódio dentro do CDS e do PSD e as tentativas de reeditar a mesma novela no ano seguinte transformaram a votação parlamentar num espectáculo mediático que perdura na nossa memória colectiva.
O livro revela ainda episódios pessoais inéditos sobre a militância de António Guterres na Mocidade Portuguesa, as relações com o Opus Dei e o drama da morte da sua primeira mulher.
Citações do livro:
«Guterres demitiu-se porque estava preparado aquilo que alguns estavam a preparar» António José Seguro
«Guterres pediu a maioria absoluta timidamente e já tarde de mais (…) Aconselhei-o a escolher a espada» António Vitorino
«Paulo Portas chegou à conclusão que a queda governo ser-lhe-ia mais favorável e pediu a várias pessoas para me pressionarem a recuar» Daniel Campelo
«Aquilo que se discutia numa certa cave de Lisboa estava a colocar em causa princípios estruturantes do regime político português» Fernando Seara
«Não podíamos continuar a aprovar Orçamentos daquela maneira. Eram incompatíveis com a necessidade de reduzir o défice excessivo» Guilherme de Oliveira Martins
«Guterres pediu-nos para viabilizar no Parlamento um governo minoritário liderado por Vítor Constâncio»
Hermínio Martinho
«Sei que a política não se reduz à técnica ou à economia, mas que também não deve esgotar-se nos jogos florentinos do poder pelo poder» Jaime Gama
«Guterres tinha uma imensa vontade de ganhar e não lhe era indiferente ganhar ou perder» João Soares
«Foi pena não termos utilizado a espada. Foi isso que nos faltou» Joaquim Pina Moura
«Tive reuniões com o presidente da Câmara de Ponte de Lima [orçamento limiano], tal como tive com outros autarcas. Se foi de noite ou de dia, não me lembro» Jorge Coelho
«Guterres tinha uma visão correcta da doutrina social da Igreja e fez bem o casamento entre o ideal cristão e católico e a política» Padre Alves de Campos
«Guterres é um homem essencialmente com preocupações sociais, de luta contra a pobreza e de libertação do pobre. É um beirão, um homem do coração, um místico racionalista» Padre Vítor Melícias
«Guterres era mais jovial, intervindo na esfera social. Marcelo era mais insinuante no lóbi político, dentro do regime desde sempre» Roberto Carneiro
«Houve várias tentativas de recrutamento de Guterres para o Opus Dei» José Tribolet