As palavras da Palavra (Excerto)

Publié par Hugo Neves le

Parábola do Bom Samaritano

 

Texto Bíblico (Lc 10, 25­‑37)

 

«25Levantou­‑se, então, um doutor da Lei e perguntou­‑lhe, para o experimentar: ‘Mestre, que hei­‑de fazer para possuir a vida eterna?’ 26Disse­‑lhe Jesus: ‘Que está escrito na Lei? Como lês?’ 

27O outro respondeu: ‘Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.28Disse­‑lhe Jesus: ‘Respondeste bem; faz isso e viverás.’

29Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: ‘E quem é o meu próximo?’ 30Tomando a palavra, Jesus respondeu: ‘Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando­‑o meio morto. 31Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê­‑lo, passou ao largo. 32Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê­‑lo, passou adiante.

33Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo­‑o, encheu­‑se de compaixão. 34Aproximou­‑se, ligou­‑lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou­‑o sobre a sua própria montada, levou­‑o para uma estalagem e cuidou dele. 35No dia seguinte, tirando dois denários, deu­‑os ao estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar­‑to­‑ei quando voltar.’ 36Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?’

37Respondeu: ‘O que usou de misericórdia para com ele.’ Jesus retorquiu: ‘Vai e faz tu também o mesmo.’»

 

 

Nota Exegética

 

É uma parábola exclusiva de São Lucas, o evangelista da misericórdia. Estamos no contexto de uma típica controvérsia rabínica, em que Jesus não recorre a uma explicação teórica, mas a uma parábola, uma história que bem podia ser real, para fazer ver quem é o próximo, contrariando as ideias correntes sobre pureza legal que proibia a classe sacerdotal de tocar num cadáver e que considerava os samaritanos como raça inimiga, dissidentes da genuína religião judaica. O estudioso Jülicher defendeu que as parábolas, na sua origem, se limitavam a um único ensinamento moral e os detalhes eram um adorno sem significação. No extremo oposto estava a exegese alegórica patrística: o homem ferido é homem caído no pecado; o bom samaritano é Cristo; a estalagem é a Igreja; o azeite e o vinho, os sacramentos, etc. 

 

 

Diálogo

 

Jesus conta­‑nos uma história, neste caso é mesmo uma pequena história, sem nos dar a chave da sua pregação permite interpretações consoante as culturas, os locais, a idade ou a fase da vida em que estamos. Nesse sentido, deu­‑nos uma grande liberdade para olharmos estes textos, ao contrário do que sucede noutras partes do Novo Testamento, em que Jesus transmite factos, que os evangelistas escrevem, e que são para os católicos a verdade revelada. Em casos como este, do Bom Samaritano, a verdade não está na história que nos é contada, mas na lição que se vai tirar dela. Não estou, pois, a pedir­‑lhe que o Senhor Padre me dê uma interpretação «oficial» da parábola, mas que usemos a liberdade que temos para sobre ela conversar. Parabolemos sobre o Bom Samaritano. 

 

Não diria bem isso, porque a parábola é um exemplo, é uma aplicação de um princípio moral ou de um princípio doutrinal, se quiser, à vida prática. De facto, pode haver um perigo, que é o perigo do casuísmo. Por exemplo, nalgum tempo a moral católica enveredou um pouco por esse caminho, ou seja, de tipificar os actos todos, fazer como que uma listagem de acções e, depois atribuir a cada uma dessas acções uma conotação moral.

 

Mas ia dizer «graças a Deus»; Cristo não faz isso com as parábolas.

 

Cristo não faz isso e isso é perigoso. É perigoso porque eu não posso dizer, por exemplo, que o pudor está em que as saias das senhoras estejam a uma determinada altura, porque isso é uma coisa que, de facto, não pode ser fixada desse modo e que levaria a uma falsa moralidade. Seria uma moralidade que se teria desprendido daquilo que são os seus princípios e dos valores que a própria moral procura defender e que fixar­‑se­‑ia em pormenores, ou em consequências práticas, que não são as mais relevantes e que poderiam levar até a um certo farisaísmo. Mas os princípios nunca podem ser postos em causa. De tudo aquilo que Jesus diz em cada parábola, há um valor que se exalta e que é um princípio inquestionável, absoluto, perene.

 

O seu ensinamento fundamental mantém­‑se válido, independentemente do tempo e da época, mantém sempre uma grande actualidade.

 

Claro que sim.  A sua aplicação a cada situação concreta dependerá, também, das circunstâncias históricas do próprio momento. Isso depende da consciência de cada um e de circunstâncias que não são ponderáveis a priori

 

Já percebi que tem um particular gosto pela parábola do Bom Samaritano e que a usa muitas vezes na sua pregação. É uma parábola em que Jesus ensina o que é amar o próximo, a novidade católica do amor ao outro. Quando lhe perguntam quem é o próximo que deve ser amado, Jesus serve­‑se desta parábola para o explicar.

 

É interessante sublinhar que é uma pergunta feita por um doutor da Lei, um teórico.

 

O que era ao tempo um doutor da Lei?

 

O doutor da Lei era o que hoje designaríamos como um teólogo. 

 

Não era um juiz?

 

Não é um juiz, mas um conhecedor da Escritura. Para os judeus, aquilo que designamos como Antigo Testamento, eles designam como a Lei e os Profetas. Portanto, a Lei seria a parte mais normativa, por assim dizer, da revelação que consta no Antigo Testamento. 

É curioso porque é um doutor da Lei que pergunta como alcançar a vida eterna, o que deve fazer para alcançar a vida eterna. Nosso Senhor responde­‑lhe dizendo que deve cumprir a Lei, o que nela está escrito. Depois, para se justificar, ele pergunta: «E quem é o meu próximo?» 

Este é o contexto e é interessante ter em conta que, de certo modo, este começo da parábola do Bom Samaritano recorda­‑nos um episódio da vida de Jesus, que é o episódio do jovem rico. O jovem rico vai ter com Jesus, pergunta­‑lhe o que deve fazer para alcançar a vida eterna, Jesus responde­‑lhe da mesma forma: «Cumpre os Mandamentos da Lei.» E depois ele pergunta que mais pode fazer. E, então, é no desenvolvimento dessa pergunta que Jesus lhe faz uma oferta e o chama para que O siga. 

 

Mas sem sucesso.

 

Sim, sem sucesso, porque, de facto, o jovem não corresponde a esse apelo, talvez pelo apego aos bens que tinha, em grande abundância. 

Aqui também, Nosso Senhor apresenta a Lei como o caminho da salvação e, dentro da Lei, sublinha de uma forma especial esta exigência do amor ao próximo. 

 

Porém, a Igreja sempre continuou a ensinar os dez mandamentos e não onze. O Catecismo da Igreja Católica refere dez.

 

Pode­‑se dizer, como aliás o próprio Cristo fez em várias ocasiões, que este mandamento novo faz parte do primeiro mandamento da Lei de Deus: Não podemos amar a Deus se não amamos o próximo, nem o nosso amor ao próximo é verdadeiro se não amarmos a Deus. 

Quando alguma vez perguntam a Nosso Senhor qual é o principal mandamento da Lei de Deus, Jesus diz que o primeiro e o principal mandamento da Lei é: Amarás o Senhor teu Deus e amarás o teu próximo, também. Parece que não faz muito sentido... Se eu perguntar qual é a cidade mais importante de Portugal, ninguém diz Lisboa e o Porto. Diz­‑se uma cidade, não duas. Mas Nosso Senhor responde com duas exigências, porque são dois aspectos da mesma Lei. 

Nós podemos pensar que a caridade é uma coisa mais ou menos etérea, mais ou menos abstracta, que é um bocado teó­rica e aqui Nosso Senhor faz ver que o próximo é mesmo aquele que está mais perto de mim. Esta proximidade é também, mas não só, uma proximidade geográfica. A pessoa a quem eu me devo dar mais é a pessoa que está mais perto de mim. Não necessariamente porque fisicamente está ao meu lado, mas porque tenho com ela uma relação de maior proximidade, por exemplo, porque é um familiar ou um colega ou um vizinho. Esse é o próximo a quem eu me devo dedicar de uma forma especial. O cristão deve ser universal na sua caridade, a sua caridade não deve excluir ninguém e deve abarcar todas as pessoas do mundo, todas lhe devem interessar e de nenhuma se pode desentender. Mas isso não quer dizer que a caridade não deva ser ordenada. Ou seja, sem dúvida que um pobrezinho que esteja agora em Cantão, na China, deve ser objecto da minha caridade, mas isso não é razão para que eu não dê mais importância ao velhinho que está mais perto de mim, porque a este posso atender, servir e ajudar, enquanto que o que está em Cantão, na China, só posso por ele rezar, só o posso ter presente na minha oração. 

Há um internacionalismo operário, dos que dizem que o mundo inteiro é a sua bandeira, a sua causa. Com certeza que é uma tese simpática, que manifesta essa unidade de todo o género humano, mas isso também pode levar a coisa nenhuma, porque uma pessoa que ama a todos por igual, se calhar também não ama ninguém. 

Nós temos de amar a humanidade inteira, mas naquela pessoa que está mais perto de nós, e é amando e servindo essa pessoa que estamos a amar todo o mundo também.

 

Parece­‑me que a parábola do Bom Samaritano não está a dizer­‑nos só isso. O próximo é um próximo que ele não conhecia. O samaritano não conhecia o homem que encontra caído no chão...

 

É a pessoa que está mais perto. De facto, é aquele que passa por ele...

 

Não é seu familiar, nem seu conhecido, nem amigo, nem vizinho. Ao passar vê por acaso um homem caído no chão.

 

Mas há uma proximidade. O que estava a dizer é que essa proximidade não tem de ser sempre geográfica mas, neste caso, é. Estão no mesmo lugar, passam um ao lado do outro. Mas também há outras proximidades: a familiar, a profissional ou a que é devida a relações de vizinhança, que faz com que o outro seja meu próximo e, nessa medida, principal destinatário da minha caridade. 

Talvez seja interessante sublinhar este aspecto: embora se diga que o samaritano se encheu de compaixão ao ver aquele homem que tinha sido maltratado, espancado e que estava a sangrar, de facto a caridade dele não se cifra na compaixão que ele sente, mas naquilo que ele é capaz de fazer pelo outro, o que, na realidade, ele faz. Pode ser que o sacerdote e que o levita, que passaram antes dele, também tenham tido sentimentos de compaixão. É provável que, como qualquer pessoa decente que vê alguém a sofrer, com certeza que isso lhes causou uma certa pena. Mas Jesus Cristo fala­‑nos aqui de um sentido muito prático, muito pragmático, da caridade. A caridade não é sentir, a caridade é fazer. A caridade não é ter compaixão dos outros, porque é necessário que essa compaixão seja operativa, que nos leve a aproximar­‑nos dos que mais precisam de nós.

 

Não lhe parece que seria mais lógico que Jesus nos dissesse que o sacerdote foi socorrer o pobre homem espancado?

 

Sem dúvida, por isso costumo dizer que é uma parábola um pouco anticlerical … Precisamente por isso, porque o sacerdote «sai mal na pintura». 

Bem sai o samaritano. Apesar de, naquela altura, ser entendido, sobretudo pelos judeus, como um povo marginal, um povo pelo qual não tinham grande consideração...

 

Que vinha de longe, da Samaria.

 

Exactamente. Cristo tinha estado na Samaria e não tinha sido bem recebido, não Lhe tinha sido dado lugar onde se pudesse hospedar, portanto era razoável que o próprio Cristo, que sofreu na sua pele essa antipatia visceral dos samaritanos pelos judeus – que estes também, por sua vez, retribuíam – podia ter deixado o samaritano num não tão bom papel. Ou podia não ter designado qual era a origem do bom da história, ou qual era a condição do que tinha passado em primeiro lugar, que era o sacerdote, que fica tão mal nesta parábola.

 

Pode esclarecer quem era o levita?

 

O levita era também uma espécie de sacerdote. Era uma pessoa que tinha funções no templo e que estava dedicado ao conhecimento da Lei.

 

Jesus mostra­‑nos que os dois tinham mais obrigação, não diria profissional, mas decorrente do seu estatuto e do que certamente pregavam, de ajudar o homem. Mas estranhamente os dois passaram sem parar. 

 

Suponho, também, que Nosso Senhor nos queira fazer ver que há, por assim dizer, duas hierarquias. 

Há a hierarquia institucional e, na hierarquia institucional, não há dúvida nenhuma de que o papa está acima dos cardeais, os cardeais estão acima dos bispos, os bispos acima dos padres, os padres acima dos diáconos, e os diáconos estão acima dos leigos. E esta hierarquia, esta ordem, deve ser observada na medida em que Deus serve­‑se dela para guiar, efectivamente, o seu povo. 

Mas há uma outra hierarquia, que é a hierarquia mais importante, que é a hierarquia da caridade. E nessa hierarquia, o mais importante não é aquele que desempenha a função de mais relevo social, mas aquele que é o primeiro no amor.

 

É o que faz obras...

 

É aquele que vive melhor a caridade. É aquele que tem mais amor. E isto é também um grande desafio. 

Às vezes surgem pessoas, ou grupos, que desejariam poder ser ordenados sacerdotes e, por algumas circunstâncias, não o podem ser. A esses contestatários é importante recordar isto: o mais importante não é ser sacerdote,  não é ser bispo, não é ser papa. O mais importante é ser o primeiro no amor e isso está ao alcance de qualquer fiel, de qualquer cristão, qualquer que seja o seu lugar institucional na Igreja.

 

Nesta parábola, Jesus explica­‑nos quem passa na estrada e não pára, mas não diz quem é a vítima...

 

Eu acho que isso também é interessante. A nossa caridade tem de ser vivida com todos e qualquer pessoa deve ser objecto desse nosso amor.

 

Onde se detém é na explicação dos gestos e nas acções do samaritano, até ao promenor. Tratou o homem espancado com ligaduras, com azeite, pagou a estadia dele na estalagem e deixou­‑lhe mesmo dinheiro para o que ele necessitasse.

 

Sim e isso é a parte mais importante. Em termos prosaicos, eu diria que a caridade é um incómodo. De facto, o pobre do samaritano estava também de viagem, não estaria de passeio, mas mesmo que estivesse de passeio era um contratempo, ter de pegar no homem, meter o homem em cima do burro, voltar para trás, levá­‑lo para a pousada, tratar dele, pagar ao estalajadeiro e comprometer­‑se a passar por lá! Aquilo era um atraso de vida! Para ele, samaritano, era uma grande inconveniência. Isto é importante: eu não amo, eu não vivo a caridade, se eu não quero, por assim dizer, a chatice que a caridade traz consigo.

 

Claro, podia ter passado e não ter parado, como os outros fizeram, e ter manifestado um sentimento de pena.

 

Claro e, de facto, nós gostamos todos muito de ver um poster de uma irmãzinha a tratar de um leproso e ver isso não custa nada. Tratar do leproso custa bastante mais, porque o leproso é leproso e está cansado, está aborrecido, está revoltado e não cheira bem, não aceita a doença e a pessoa que o está a tratar pode até contrair essa mesma doença. Aplaudir o gesto não custa muito, mas isso não é a caridade. A caridade é fazer, a caridade é estar, a caridade é socorrer aqueles que, de facto, mais precisam, aqueles que estão mais perto de nós.

 

Esses são «o próximo»?

 

Sim, esse é «o próximo».

 

Esta parábola é também um bom exemplo de como Jesus se serviu de pequenas histórias para ensinar os apóstolos?

 

Sim, nos ensinamentos de Cristo há sempre duas dimensões. Uma primeira, que é a dos seus discípulos, que não teriam por que ser apenas aquele grupo dos Doze, mas um número mais alargado dos seus seguidores, por assim dizer, os seus alunos, aqueles que tinham com Ele alguma forma de compromisso e que já eram cristãos. Depois, o povo em geral. 

 

Quem será, então, o destinatário desta parábola?

 

Embora a parábola seja dita a todos, discípulos e não discípulos, geralmente a explicação da parábola é só para os primeiros.

 

Mas este é um exemplo claro de que Nosso Senhor localiza na estrada de Jerusalém para Jericó. Provavelmente, se acontecesse numa rua movimentada de Jerusalém, não sei se haveria tanta indiferença porque as pessoas sentir­‑se­‑iam observadas.

 

Sim, e acho que até, infelizmente, nalguns ambientes há como que uma defesa dessa atitude: «Não tenho nada de me meter na vida dos outros!»

 

Acontece muitas vezes com a violência doméstica, por exemplo.

 

Exactamente. As pessoas não sabem, ou não querem saber, ou não se querem meter. Com certeza que é uma atitude cómoda. Pode haver pessoas que sejam metediças na vida alheia e isso não seja uma manifestação legítima de caridade, mas nós não podemos fechar os olhos à realidade que está à nossa volta, sobretudo quando há pessoas inocentes que estão a sofrer e a precisar da nossa ajuda.

 

Mas insisto, talvez se fosse no centro de Jerusalém, a reacção do sacerdote e do levita não fosse aquela.

 

Pois, também isso é interessante frisar. Esse aspecto de que a caridade não deve ser só bem feita exteriormente, mas também interiormente. Que não haja da parte daquele que a pratica nenhum sentimento de superioridade ou de vaidade espiritual em relação àquilo que está a fazer. Porque está a fazer aquilo que é a sua obrigação, não está a fazer nada mais do que o seu dever. Aquele que não faz nada, faz mal, aquele que faz bem, faz aquilo que lhe compete. E faz aquilo que lhe compete, também, porque tem a graça de Deus para isso, porque é graças a Deus que ele pode realizar esse bem.

 

Jesus poderia ter colocado esta cena em Jerusalém, no meio de uma praça movimentada. Coloca­‑a numa zona desértica em que não há quase ninguém a passar…

 

Claro. Nosso Senhor diz isto também em relação à oração e ao sacrifício. 

Em relação à oração, Nosso Senhor condena os que rezam nos cantos das praças, para serem vistos e estimados como muito piedosos. Nosso Senhor diz para não rezar assim, para rezar no quarto, fechar a porta, fazendo da oração um acto íntimo em relação a Deus e Ele, que vê no silêncio do nosso quarto, nos premiará. 

Aquele que se sacrifica, mas que sai com um ar angustiado para que todas as pessoas se compadeçam dele, não tem mérito. O que tem valor é aquele que se sacrifica mas que, depois, não o exterioriza e aparece com boa cara para que essa mortificação seja apenas do conhecimento de Deus. 

Esse aspecto é fundamental: a rectidão de intenção naquilo que fazemos, concretamente se fazemos alguma coisa bem. A rectidão de intenção não é fingir que nós não fizemos uma coisa, não se trata disso, não se trata de negar uma realidade, mas trata­‑se de negar o mérito dessa realidade, porque o mérito não é nosso, é de Deus. Se nós pudemos fazer esse bem, foi porque Deus nos deu a graça para o fazermos. Somos servos inúteis, como o próprio Evangelho diz.

Fizemos aquilo que devíamos ter feito, mas a força que nos foi dada para fazermos isso não é nossa, é de Deus. Nós fomos simplesmente um instrumento de que Deus se serviu para que aquele bem se pudesse realizar. Não foi de nós próprios que isso veio, veio do Senhor, que nos deu a graça para fazermos o bem. 

A caridade não é um amor humano muito bom, excelente, de grande qualidade. Não. É o amor de Deus, o amor de Deus em nós, que actua através de nós, que passa pelo nosso coração. Eu não seria capaz de amar os outros, de os perdoar, de querer o bem àqueles que me querem mal, de amar os meus inimigos, se não estivesse em mim o amor de Deus.


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