Prólogo (Será que as mulheres ainda acreditam em príncipes encantados?)

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Não há nada mais fácil do que escrever sobre homens e mulheres. Basta pertencermos ao género humano. Escrever sobre as relações entre ambos os sexos é o mesmo que escrever sobre os Balcãs. Há milhares de livros publicados sobre o assunto, mas a base teórica é sempre a mesma: é suposto andarem às turras.

Mas a guerra dos sexos está praticamente no fim, até porque cada vez mais os sexos se confundem. As mulheres deixaram de usar saias e começaram a usar calças, e alguns homens largaram as calças para assumirem as saias. Já não se sabe bem quem é quem, e quem é que quer ser o quê. O mundo está numa confusão perfeitamente incompatível com um conflito entre sexos.

Finda esta guerra, sem vencedor declarado, para os homens fica o maior de todos os mistérios: quem era o inimigo? Sim, os homens não fazem a mínima ideia de quem são as mulheres, do que querem, do que sentem, do que pensam, nem se esforçam por saber. Para os homens as mulheres são um enigma só comparável ao ponto de cruz. Podemos passar uma vida inteira ao lado de uma sem nunca a conhecermos verdadeiramente. Homens deste mundo, quantos de vós sabem porque é que as mulheres vão juntas à casa de banho? Quantos de vós sabem por que é que elas acordam a meio da noite a chorar? Quantos de vós sabem o que é quer dizer um «pode ser» de uma mulher?

Por isso mesmo escrevo. Não porque tenha a presunção de poder responder a qualquer uma destas questões, mas porque tenho a secreta esperança de que os homens se venham a dedicar mais a esse árduo trabalho de descobrir quem são as mulheres.

Durante meses, durante anos, fiz uma investigação aplicada. Falei com milhares de mulheres, fiz-lhes as perguntas mais descabidas do mundo, ouvi as conversas mais incríveis entre elas. Estas páginas são o testemunho da minha viagem à psicologia feminina. O passeio de um marciano noutro mundo qualquer.

O problema foi mesmo escrever. Como é que eu ia agora escrever um livro? Eu? E o resto dos escritores, como é que escrevem tantas páginas – excepção feita ao José Saramago, cujas palavras fluem como a água nas cataratas do Niágara – e como é que têm a certeza de que as pessoas não se fartam no meio? Como é que suportam as críticas horríveis, e os perfis que nos traçam só por causa daquilo que escrevemos? Como é que garantem à mulher que vão conseguir comprar o jantar todos os dias? São mistérios que vão entretendo o meu tico e o meu teca.

         Escrever deve ser por isso um dos exercícios supremos do egoísmo. Escreve-se porque gostamos de nos ler a nós próprios, e porque adoramos que nos leiam. Tal como só contamos histórias porque adoramos que nos oiçam. É uma espécie de auto-satisfação. Gosto disso. Vou ser escritor.


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